18/05/23
“Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
Acabei de assistir a um pequeno trecho de uma entrevista de Vinícius de Moraes, em que ele recita sem grandes interpretações o seu famoso poema. O entrevistador com voz de verdade agradece a Vinícius, que com um olhar meio infantil responde:
- De nada.
A arte é uma gentileza da humanidade para consigo mesma. Na prática é uma gentileza do artista para com o mundo, suas obras de arte. A gratidão do entrevistador diante do poema de Vinícius e sua resposta ficaram gravadas da minha cabeça, o olhar de Vinícius foi correspondente à verdade na voz do agradecimento. Como quando uma criança nos traz uma flor de presente e a agradecemos e tudo isso é verdade, o coração da criança, o valor da flor, nossa alegria diante dela e a veracidade da dádiva: “De nada”.
Há algo inominável envolvendo a gentileza, da esfera do contraditório. Aparentemente está na esfera da encenação da vida capaz de superar a realidade mesma, de darmos valor ao que é inútil porque apenas o que não tem utilidade valoriza a vida em si. Por exemplo, o desconforto na cordialidade obrigatória, que não impede a bela ação de ser (e parecer) cordial e boa. As existências interrompidas das flores de todo buquê, não há algo de triste nessa interrupção, que se contrasta à felicidade de quem os recebe? Falo sobre o medo nas entrelinhas das declarações de amor; dos terríveis abismos dos quais os artistas pescam suas ideias que transformadas chegam em gentileza ao público; da dor do menino Vinícius que em poesia nos leva ao - tão humano e confortável - lugar comum das esperas impossíveis.
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