terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Imaginário

Eu fui à imobiliária, eu escolhi o apartamento.
As paredes eram feias e nos cantos a tinta se negava a se prender à parede e fazer seu papel, eu as pintei de creme, todos os comodos menos meu quarto, esse eu preferi pintar de azul claro, eu escrevi na parede "eu consegui".
Não havia muitos móveis, quase nenhum na realidade, os comodos pareciam grandes devido ao vazio, o silêncio só se quebrava pela torneira do banheiro que insistia em gotejar, o vento entrava leve pela janela pequena da sala e balançava as folhas da camélia que levei plantada num vaso. No meu quarto, minha cama se acomodava no canto esquerdo, no chão umas três pilhas de livros, levei todos os meus livros, inclusive os que eu não vou ler hora nenhuma.

Eu não tinha geladeira, nem fogão, nem nada dos eletrodomésticos básicos, minha cozinha se limitava a uma fruteira, e alí ficavam as banans, as mangas, os abacates, laranjas, morangos...um pacote de sucrilhos em cima do balcão da pia ainda dava ao ambiente um certo ar de normalidade.

Eu acordei cedo, olhei pela janela e não reconhecia as pessoas que passavam, nem os prédios que se enfileiravam pela rua, cidade desconhecida, mundo novo a descobrir.
Eu escolhi as ruas pelas quais iria, eu selecionei os livros que compraria, eu andei pelo centro, eu conversei que rostos novos, meu olhar era curioso, eu andava a pé, eu não comia pão, eu lia muito, eu estudava, eu era feliz.

Eu acordei, não dormi hora nenhuma, mas acordei, tudo não passou de um mero sonho, um sonho qualquer.
Eu conferi na lista de aprovados, e não havia meu nome lá, li e re-li a lista, li nome por nome na esperança de terem colocado meu nome no lugar errado, desisti.

Mais um ano, vou engatar primeira, vou acordar aqui em Piedade mesmo...o tempo correu e me deixou por aqui.

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