- Nome?
- Humano Sem Sobrenome
- Senhor?
- É isso mesmo. Meu nome é Humano Se...
- Perdão, falha minha. Idade?
- 61.
- Por que o senhor gostaria de aprender francês? Quais são seus planos e quanto tempo o senhor tem para se preparar?
- Só não gostaria de morrer sem ter aprendido direito essa língua.
- Certo… E o senhor está com pressa?
- De morrer? Não exatamente, mas…
- Pressa de falar francês, eu quis dizer… perdão, falha minha outra vez.
- Podemos morrer amanhã, não é verdade? Ou hoje… Sêneca dizia que...
- Desculpe… o senhor pode aguardar um minutinho?
Brisa vai até a sala da Coordenação e bate na porta:
- Beto? Celine? Algum de vocês pode me ajudar?
- Pode entrar!
- Beto, boa tarde! Estou com dificuldade no atendimento, um velho muito esquisito apareceu e eu…
- Puts… Celine não trabalha hoje, é com ela essas coisas… Mas o que tem o velho?
- Não consigo atendê-lo, acho que ele é doido…
- Todo doido é esquisito, mas nem todo esquisito é doido. Acho seu nome muito apropriado…
Beto levanta da poltrona e vai até a porta, inclina-se para frente de modo a fazer Brisa pensar que receberia um beijo e, colocando lentamente a cabeça para fora da sala, reconhece o velho esquisito.
- Aquele é o seu Humano! É dono de tudo aqui.
Silêncio…
- E eu deveria saber disso? Por que ninguém me avisou que ele viria?
- Ninguém sabia que ele viria… Mas que ele é o dono da escola, isso está em todos os documentos, inclusive no contrato de admissão que você assinou recentemente.
- Eu vou voltar lá…
- Seria bom…
Brisa retorna ao balcão de atendimento e volta em alguns segundos.
- Beto! Ele foi embora! Acho que serei demitida…
- Conversa com a Celine depois… Já está na minha hora.
- Já passou do meu horário…
- Boa noite, Brisa! Quer carona?
- Não vou cair na sua, Beto. Boa noite e até amanhã!
- Amanhã é domingo…
- Eita! É verdade… Até segunda, então.
- Até.