sexta-feira, 30 de julho de 2021

Sobre a esposa e o bebê que não tenho

Tenho dó de Dédé, hoje mesmo ele disse “eu sou mesmo um coitado”, e é. Deve ser horrível essa sina de ser o amor da minha vida, o amor da vida de alguém como eu, o amor da vida de uma pessoa doida. Eu tenho medo de ter um filho, porque sinto que essa criança cresceria estúpida, torta e desgraçada, como eu. Hoje conversamos sobre isso e foi muito interessante. Dedé é a única pessoa mesmo que poderia supor minha resposta, eu perguntei:

- Sabe o que eu faria se engravidasse?

E ele na lata respondeu:

- Daria para o pai.

Dedé me conhece. Dedé é muito bom, muito melhor que eu. É minha esposa idolatrada, salve e salve! Mas Dedé é homem… Se fosse mulher Dedé seria ótima esposa, mas essa testosterona toda atrapalha demais. Nunca soube minhas taxas hormonais, mas sinto que tenho um vazio, uma coisa que falta, que se projeta na minha falta de fé e no meu temor à maternidade. Eu ficaria triste se engravidasse, profundamente triste. Eu choraria, eu me bateria, eu imploraria ao universo que matasse o meu bebê. Falei isso para Dedé hoje, e ele em sua infinita sabedoria sugeriu que eu registrasse essas reflexões, registrasse também a imoralidade dessas reflexões, para que eu deixasse em algum lugar (fora de mim) a vontade de matar o meu (imaginário) bebê.

Estranhamente este se tornou um texto para o bebê que eu nao tenho, primeiro texto, talvez único e último, para o bebê o que eu não tenho. Saiba, bebê. que eu te amaria. Não te quero, mas te amaria, como tudo que eu amo nessa vida. Eu seria sim uma boa mãe. Por isso mesmo não quero, dá muito trabalho ser uma boa mãe, uma boa pessoa. Não te quero por que você, que não existe, me daria muito trabalho. Mas não só, não te quero porque eu te amaria demais, e amar dá trabalho, e eu não gosto. E não só, não te quero porque você poderia ser igual a mim... parecido que fosse - seria triste.


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