quarta-feira, 14 de julho de 2021

Sobre o descanso

É assim mesmo, acumulamos coisas, reais e de outra ordem. Dessas últimas a tristeza é a que mais ocupa espaço quando se está com a alma abarrotada. Tristeza é como um móvel enorme, quebrado e que não se pode consertar, um trambolho que não se pode jogar fora nem doar. Que fazer senão deixá-la num canto e de tempos em tempos limpá-la da poeira? Nada.

Dentre meus móveis sentimentais prezo sobretudo a felicidade na qual me deito como num perfeito divã. Pouco importa os detalhes, as explicações físicas e metafísicas, estéticas, políticas – deitar o espírito em algum lugar é o que importa. Deitei-me numa conversa dias atrás, numa conversa com meu pai. Preciso dizer três coisas, ele disse:

– Oro por você todos os dias, normalmente ao acordar. Se eu desaparecer ou morrer, está tudo bem entre nós. Há um lugar seu em minha casa, para o qual pode ir, partir e retornar.

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Texto escrito em 2018, publicado pela primeira vez na Ruído Manifesto em 2020:

http://ruidomanifesto.org/quatro-textos-de-selmy-menezes/  

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