sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um brinde ao berço!!...e só.

 Eu estou lendo o livro "O perfume". Gostaria mesmo era de em vez de uma foto, postar aqui um cheiro.
 O cheiro que tive o prazer de sentir hoje ao anoitecer, encostada na sacada por entre minhas flores, que por sinal estão todas floridas, varias e varias que variam entre o vermelho sangue, o rosa e o roxo. O cheiro da sala escapava pelas portas azuis da sacada, que cheiram a ferro molhado, sempre...Da cozinha vem um cheiro de limões que a dias estão a secar dentro de uma fruteira verde em cima do fogão, que por sinal está sem uso por falta de gás, mas sinceramente eu aprendo mto tomando tantas vitaminas, sempre existe um lado bom da coisa hahaha.
 O céu, com nuvens imensas cheias de fru-frus, todas pintadas de rosa, o sol se despedindo em grande estilo por detrás dos prédios, a brisa trouxe um cheiro de frio que me levou pra um tempo distante, onde Valéria às manhas fritava ovos com folhas de hortelã. Estas hortelãs me levaram pras coloridas 11 horas plantadas nos parapeitos das janelas do sitio em São Miguel Arcanjo. E de memória em memória fui encontrando um calorzinho igual ao de lenha, aquele que queima quando fica pertinho, porém na distancia perfeita em nada incomoda, esquenta até e melhora. Esse calorzinho vinha das memórias de todos os cafés da manha preparados por uma Mãe, a minha. Senti o cheiro do quarto dos meus pais, cheiro de velas, de couro, madeira, tauquinho e sabonete febbo.

 Eu senti o cheiro de tudo que passei até aqui, como tudo estivesse concentrado num frasco só, o cheiro de tudo de todos os anos, e eu inflei os pulmões, colhendo o cheiro do passado. E o cheiro leve de fumaça veio de dentro da sala me trazendo de volta pro hoje. Marisa Monte cantava tranquilamente, e o sol que entrava pelo quarto batia no móvel de madeira que sustenta a tv e todos os livros. Hoje a vida se desembrulha devagar, de minuto em minuto, de pessoa em pessoa, não sei dizer o cheiro de ontem, daquele banheiro de bar, o chão molhado, batiam na porta esperando que eu saisse logo, e demorei. Saí como quem sai de uma nave espacial que pousa nos anos 20 no centro da cidade.Fui pra casa após uma leve passada por dois butecos oficiais do campus universitário, lugares onde todos passam pra dizerem apenas "oi", conhecem e são conhecidos, e gostam disso, sabe-se lá pq.

Um beijo à todos.
Em especial pra vc Mae, que sempre me lembrou um calorzinho no peito...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Ipê

 Voltando do trabalho domingo de manhazinha, numa esquina próxima à minha casa, dois ipês lindamente floridos encenavam uma espécie de "garôa de flores", não pode se chamar de "chuva", pois as flores caiam lentamente, garôa é nome bom.
  Maritacas, abelhas e beija-flores estavam nas copas se alimentando e "barulhando". As maritacas, nos intervalos de suas gritarias, bebiam o mel das flores, fazendo assim com que se desprendessem e caissem lá de cima, num balé até o chão.
 Passei um tempo ali, olhando encantada as maritacas verdes derrubando dezenas e dezenas de flôres amarelas, que se acumulavam na calçada, na rua e em cima de um carro preto estacionado.
 As flôres eram muitas, estavam em cima, em baixo, e chovia, chovia flores, caiam de cinco em cinco.
 Quis levar flores pra casa, e decidi levar apenas uma só. Ao olhar pro chão na tentativa de encontrar a flor certa, aquela que ao me encontrar me dissesse "oi" de uma forma mais intrigante, mais peculiar, mais atraente, aquela que poderia representar a beleza da cena. Haviam botôens caidos; flores já entreabertas; flores jovens em toda sua sensualidade; e flores já velhas e que contavam histórias, como a de um inseto que morou alí uns dias, um galho ou folha que esbarrou certo dia, e até mesmo falam do tempo, do tempo que passou,elas sabem que um dia foram botõens, sabiam que prcisavam dar mel e souberam que no encontro fatal com a maritaca o próximo passo seria desconhecido por via de regra, afinal não estava nos planos daquelas flores acabarem daquele jeito.
 Uma flor em especial, me disse que planejara ela ir embora dalí numa brisa, num futuro qualquer onde já estivesse muito, muito fraquinha, cansada até, com rugas, uma certa flacidez. Sairía dançando do seu galho, bem de leve, e seria um vôo e não uma queda. E enfim cairía mais pra lá ou mais pra cá de onde nasceu, mas não, caíra em linha reta, direto pro chão.
 Decidi então poupar a queda de uma flor, a qual levaria apenas um susto e não um fim. Ela permaneceria sua vida, só que de outra forma, ainda contaria histórias, histórias de como foi ela, uma flor, coisa de árvore, parar dentro de um livro, depois de sido quase morta por uma maritaca faminta que a atacou em sua junventude, quando ainda tinha humidade e planos.
 Com as palmas das mãos abertas, fiquei ali a tentar pegar discretamente uma flor ainda em sua queda, mas não dá, não dá pra ser discreto. Era difícil, muitas caiam. Tentar encontrar uma flôr em queda e pegá-la, discretamente não dá. Num plano lógico, segui com os olhos uma maritaca em sua procura por mel, pousou ao lado de uma flor, olhou, olhou, bicou o caule bem juntinho ao galho, girou no bico a flor com extrema destreza e ficou com o bico enfiado na flor, bebeu, bebeu e vôou, e nissou a flor caiu e foi como se eu soubesse exatamente onde cairia, estendi a mão esquerda enquanto olhava pra ela cair, e caiu como cego em tiroteio em minha mão. Me contou que se chamava Flôr Amarela de Ipê, disse também que sentia uma pequenina inveja de sua amiga Rosa pela simplicidade do nome, detestava tantos sobrenomes.
 Chegando em casa, escolhi Maria Moura pra cuidar de minha flôr, justamente numa página, onde Rachel de Queiroz escreve "...quando um perguintou ao outro onde é que ele morava, o cabra soltou a voz e respondeu: "Em cima das minhas apragatas, e em baixo do meu chapéu..."


Beijos.

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