Triste desde ontem de manhã (quando descobriu que não teria o bebê indesejado), observa suas unhas. Há dez anos as olha crescendo e quebrando sem nada por cima que as esconda.
- Minhas unhas são como meus pensamentos.
- Celine? Celine!
Celine acorda assustada e num movimento brusco deixa cair no chão o porta-retrato que, nos dias felizes, enfeita sua mesa e, nos dias maus, assombra seu expediente.
- Oi! Nossa! Peguei no sono. Estou tão cansada ultimamente… Posso te contar uma coisa, Beto? Beto?
- Sim! Estou ouvindo… não posso parar de trabalhar, mas estou ouvindo.
- Achei que estivesse grávida e, estranhamente, eu...
Beto se afasta da mesa de trabalho e observa o céu nublado por trás das janelas de Celine.
- Celine. Você está bem?
- Não sofri nem provoquei um aborto. Se é o que está perguntando. Eu achei apenas que estivesse gráv...
- Perguntei se você está bem.
- Não, não estou. Eu estou meio doida... achei que estivesse grávida e pela primeira vez, Beto, eu não quis morrer.
- Mas morreria! Você sabe, certo? Que morreria!?
- Sei sim… Mas sempre quis morrer… como todos sabem. E a contradição está aí! Nada está mais perto da morte do que a própria vida. Um bebê me mataria… Estou tão cansada… Sofrer cansa, querer cansa. Bom seria não querer nada, sofrer por nada… morrer mesmo… ou ter um bebê - que é a mesma coisa.
- Você é tão estranha às vezes…
- Eu sei. Grávidas não podem fumar, sabia?
- Pois…
- Eu morreria.
- Morreria.
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