terça-feira, 17 de agosto de 2021

Celine e Beto conversam

 - Beto, essa menina está me dando nos nervos! Aquela pentelha louca! Misericórdia - como odeio os jovens! Se bem que ela deve ter uns 30 hoje em dia...

- De quem mesmo você está falando? Da moça do balcão? Brisa!

- Brisa.. que Brisa, Beto! Acorda! 

- O nome dela não é Brisa? Ela disse que os pais eram hippies e que em setenta e…

- Beto! Puta que pariu! To falando da Sara.

- Porra… Ela não tinha…

- Sim, estava desaparecida desde…

- Nossa… desde 2000 e bolinha!

- Essa coisa de falar “e bolinha” depois de alguma data, é coisa de velho eu acho. A gente está velho, Beto?

- A gente está velho sim, daqui para frente é só para trás - como diz aquele cara que você está saindo! Como é mesmo o nome dele? Muito engraçado, gente finíssima, encontrei com ele hoje de manhã e ele disse que…

- Pedro. O nome dele é Pedro.

- Sim, Pedrão!

- Pedro só. Beto! Volta! Eu quero falar mal da Sara...

- Mas ela não estava desaparecida? Todo mundo achou que…

- Que ela tinha ido dessa para a pior.

- Que horror, Celine!

- Besta! Essas coisas não existem, Beto. Betinho… Betinho do papai! - E ri.

- Odeio que você me chame assim…

- Eu sei… Você é meu melhor amigo, Beto. Minha pessoa! Vamos armar aquele ménage!

- Você é doida, Celine! Que mané ménage… Porra...e a Sara?

- Passeando de mãos dadas com Pedro na beira do lago. Ninguém viu. Quem me contou foi a própria Sara.

- Mas ela não tinha morrido?

- Acho que todo mundo pensou que ela tinha morrido porque adolescentes não entendem nada de nada… Sabe o que aconteceu? Ela se mudou para Itaquaquecetuba.

- Itaquaque o quê?

- Cetuba. Enfim, ela não morreu… e é engraçado porque eu achei mesmo que ela estivesse morta, eu sonhava com ela…

- Vocês tinham uma amizade esquisita naquela época… Vocês se beijavam escondidas no banheiro, brigavam às claras no corredor das portas, e lembra daquele dia…

- Beto! Eu sonhava com ela voltando e me pedindo desculpa…

- Pelo quê?

- Por ter ido embora daquele jeito, depois daquelas coisas todas… E agora aparece assim, girando na praça com Pedro… Aí me encontra na rua, age como se nada tivesse acontecido, conta feliz da história da praça, e pipipi popopo, o cabelo dele...

- Está com ciúme?

- Não, não… eu estou triste apenas. Porque Pedro e Sara agora vão ficar por aí, brincando de madrugada às 11h da manhã, vão me esquecer...

- Celine… que merda é essa?

- Eu que pergunto! Que merda é essa, Beto?

- Glória aos deuses! Deu minha hora… Vou para casa, dormir, estou moído… e está tudo bagunçado em casa, penas para todos os lados, sinistro…

- Aquela história do pavão? Cara… acho que isso pode dar merda. Que merda é essa, Beto?

- Celine… Tem umas coisas estranhas acontecendo mesmo. Hoje de manhã parado no sinal vermelho, estava acendendo uma ponta quando vi o cara do carro ao lado jogar pela janela um papel enquanto brigava com a moça careca que gritava enquanto estapeava o volante.

- Quê?

- E você sabe como eu sou curioso! Fingi que deixei cair algo pela minha janela, abri a porta e peguei a porra do papel…

- Você não fez isso..

- Fiz…

- E ai?

- Amanhã te mostro o papel, você vai achar bonito, papel velho do tempo todo amarrotado, rasgado na assinatura, uma cartinha de amor...tenho que ir…

- Mas o que estava escrito?

- Fulano… amo você, blá blá blá… Amanhã te mostro, tenho que ir.

- Eu gosto dessas histórias… Volto para os anos 2000 e bolinha… quando éramos adolescentes e...

- Estamos velhos, Celine… até amanhã!

- Até.


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