sábado, 20 de maio de 2023

Registro 066

10/05/23

Um segundo


Eu tenho medo do silêncio e do barulho

Da claridade e do escuro

Do raso e do profundo, eu tenho medo

E mesmo antes de tudo acontecer

Se for pra ser, o que será?

Eu tenho medo!


Mas com você eu vou até o fim do mundo

Enfrento a morte por ao menos um segundo

E aceito os dias como são e o fim, enfim

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Sobre o fim das coisas


Aristóteles acabou com a minha vida, eu acho. Que adianta a felicidade e entender o que deve ser feito? Buscar a excelência não justifica ainda a vida, não lhe dá razão nem a torna justa. Ser feliz não serve mesmo para nada, é só mais uma categoria em que se encaixam algumas existências e outras não. 

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A capacidade de imaginar o futuro é uma benção e uma maldição. Ser uma humana que pensa é trágico e como sou dramática, minha tragédia é cheia de detalhes íntimos e desnecessários que lhe dão um quê novelístico. Sou péssima como roteirista, diretora, atriz, só me salvo como público mesmo - cujo único dever é espectar, comover-se talvez, emocionar-se no máximo, rir, chorar.

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Sobre especulações I


Physalis não nasceu e mesmo que nunca venha a nascer me angustia, tudo que amo me angustia um pouco. Com seus olhos enormes a me fitar no pensamento. Esperam de mim uma resposta que nunca tive para mim mesma, quanto mais para dar aos outros. Será essa a força das mães que tanto falam? Falam de algo que não existe até que venha a ser, mas o que não é assim? São imprecisos. Em mim não há força nenhuma ainda. Como um deserto que em mil anos será floresta, aguardo sementes.. também tempestades, rios subterrâneos, e bichos, e perigos, e vida e morte e vida e morte - num ciclo visceral, dramático e cego. Ser vazia é ruim, ser cheia também deve ser. Porque não há razão em ser uma ou outra coisa, ou não ser coisa nenhuma, a existência é uma eterna falta e o destino não possui propósito, prova disso são os verdes que vem e vão nas terras do mundo, os astros que se formam e depois explodem no espaço… para onde vai tudo que existe? Na eternidade do tempo as coisas somem como nascem no todo, do nada, para nada.


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