segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Parte II- Nos sonhos.

Ontem eu me flagrei contando segredos. Contei o que faço quando você dorme.
Eu vejo beleza na cena. Sem roupa, dormindo, as pernas e braços abertos, o peito pra cima, respirando fundo, vulnerável, tranquilo. Eu fico olhando a sua cara e você não se meche. No seu pescoço eu vejo sua pulsação e eu lembro que gosto do seu cheiro. Junto com a vibração de suas veias percebo seu tórax subindo e descendo, seus pelos. Gosto.
 Existe uma certa delicadeza. E no fundo é o que mais gosto, a Delicadeza. Quando dormes, sua delicadeza ganha espaço, mais corpo, mais cheiro. Eu sinto seus cheiros como se brilhassem no escuro, e eu os sigo com a ponta do nariz. Todos são limpos, cheiros que me trazem boas recordações. Um cheiro que me lembra a tranquilidade de estar segura, à salvo, protegida. Um cheiro de jardim, de roupa limpa, de ar fresco, café, cigarros...
 É tão diferente dormindo. A sensação é que és absolutamente meu, contanto que não lhe acorde. Seus músculos. Sinto vontade de te tocar com o maior cuidado do mundo, deslizo meus dedos por entre seus contornos. Me levanto, arrumo a janela pra direcionar o facho de luz. Respiro devagar, observo, me perco...me encontro, e durmo.

 Acordado, sua delicadeza dorme, suas sobrancelhas se franzem, sua boca se contrai, é todo força e determinação. Gosto também, tem seu charme. É preciso ser forte nesse mundo, eu sei, mas tenho um tanto de pena. Esse mundo é muito hostil...

 E nesse mar de pesares, encontro abrigo em seus olhos. Fortes e castanhos, leves e decididos. Quero que encontre abrigo em meus olhos também, e onde mais quiser em mim. Quero que sinta o que eu sinto, quero que sinta que nesse quarto não há frio que nos castigue. Você, tão quente, quente sim, e me relaxa as tensões sendo assim. Meus pés gelados precisavam dos seus. Eu precisava de tudo que me deu, de tudo que me dá.

 Foi tão triste ver o mundo se desencantar. Foi tão triste. Eu criara um tão belo personagem, tão belo e desagradavel quanto aquela flor no quintal que cheira a merda e atrai insetos. Nesse mundo, devido a tanta bosta, há uma infestação de insetos, que nojo. Se reúnem em volta do lixo e festejam, e eu tava lá, brincando de ser cega, que humor negro. Você me pôs na moto e me levou embora.

 Hoje, vendo a lua cheia por detrás da copa da jaboticabeira, penso que gosto dos seus dedos dos pés e dos seus olhos calmos, de suas costas e de suas orelhas, Gosto de sua sensibilidade. Gosto do leite quente antes de dormir e dos cereais às manhãs, amo os gostos do seu cuidado por mim. Seu amor tem gosto de fruta, de vinho, de pãozinho saído do forno, de comida boa...tem cheiro de erva doce, de arnica e maconha, tem calor de fogueira, tem conforto de casa.

 E eu penso, amo e sofro tudo isso no silêncio da madrugada, no escuro do quarto, no conforto da cama, enquanto dorme.

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