segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um jantar...

Ontem pela primeira vez o jantar ficou em minhas mãos. Domingo ensolarado e ridiculamente quente, fomos à feira depois de uma noite sem dormir, 7:30 h entre as barraquinhas dos feirantes, cheiro de fruta, de pastel, de peixe, de manhã, de fruta pisada...O céu, calado pela falta de nuvens, se desembrulhava numa imensidão azul e um sol ardido se derretia derramando pela rua cercada de ipês uma cor alaranjada, que dava um certo quê de "felicidade" ao lugar, tudo tão brilhante assim, só pode ser bom...uma bela manhã.

Resolvi ir embora da feira quando notei que não havia mais forma de pendurar sacolas em mim, mochilas e bolsas. Todas as comidas na mochila, na bolsa os documentos, o dinheiro e as chaves, nas mãos as sacolas com plantas, todas de uma personalidade incrível.
Ao chegar na casa, me ocupei em encontrar um bom lugar pra cada nova moradora da casa, a flor branca do vaso de madeira saiu da mesa e foi pra mesinha de canto, a Samambaia ficou na primeira prateleira do rack (quase encostando no chão), a Falso dente de leão rocha ficou em cima, na última prateleira, junto à foto da Vó, avós são importantes, a vó então nem se fala, respeito, deixei-a em paz em seu porta retrato roxo com detalhes brilhantes...enfim, são 8 vasos de plantas espalhados pela sala e quarto, elas falam muito, quebram o silêncio dos móveis, que quietos e mortos participam da estética da casa numa certa harmonia de cores, tudo é sóbrio.

Já às 22:00 h, o levo na cama pela primeira vez um jantar que fiz sozinha. Numa bandeja  levo  cascas fritas de batata; numa forma charutos de couve recheados de purê de batata com azeitonas e queijo branco assados no forno ao azeite*; e por fim o prato principal, alcachofras ao molho de pimentão. No filme Ratatoulle, o cozinheiro do filme faz um molho, que mesmo sendo um filme de desenho me dá água na boca, o molho é laranja e brilhante, eu sempre tentei fazer algo parecido com aquilo pra comer e nunca havia conhecido e FINaLmenTe consegui, certo estímulo me faltava que hoje até me sobra! Descobri que o pimentão vermelho cozido com tomates sem casca, batidos no liquidificador com sal e pouca mostarda, resulta num molho laranja, que quando bate a luz, pontos brilhantes refletem na superfície do líquido. Cozinhei alcachofras pela primeira fez na vida, somente na água e sal. O roxo se diluindo na água e as flores ficando verdes e escuras, e quando finalmente prontas, junto ao vapor de suas pétalas um delicado perfume meio amargo e cítrico ao mesmo tempo, não era mais flor, era agora uma comida, mas guardou pra si a beleza de ser uma flor. Se desfizeram pétala por pétala enquanto desfazíamos nos dentes suas tão suculentas poupas. Por fim, as pétalas vazias num canto da forma, o coração da alcachofra cortado ao meio em cima de um prato. E nós, satisfeitos e concentrados na "Excêntrica Família de Antônia" (filme), esperamos o sono chegar, e chegou, e durou, e fim...

5 comentários:

  1. Peguei a dica do molho laranja, bem interessante e parece muito gostoso!Então ele gosta da vozinha?Porque pra ter um porta retratos com foto da vó,ele deve ou é muito importante. Amei seu texto como sempre, ainda acho que voce vai ter sucesso como escritora periódica de jornal ou revista escrevendo crônicas. Bjinhos com sabor de alcachofra.

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  2. Corrigindo: A vozinha foi ou deve ser ainda muito importante na vida dele.

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  3. Achei esse texto especialmente bem escrito, Sel!

    Só um detalhe: em "quebram a falta de silêncio dos móveis", você quis dizer "quebram o silêncio dos móveis"? Ou não entendi algo?

    Olha, sei que sempre digo uma coisinha que achei estranha ou errada, mas essa é minha maneira de dizer que li com atenção e que gosto de você :) Ah, e porque sou CHATA rsrs

    Beijo!

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    1. Ceci, só vi agora seu comentário (depois de 6 anos) e sim, você tem razão hahahahaha. Você é uma linda Ceci.

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  4. Seu molho me deu água na boca. Vou tentar fazer igual.rsrs Bj

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