Me senti velha pela primeira vez, senti
falta do corpo e do espírito que já tive um dia. Não reconheço a moça no
espelho, é outra pessoa, mais chata e acabada que eu. Com o tempo, os olhos de
peixe morto estão se acentuando, os dentes estão ficando acinzentados e a boca,
antes reta, está se curvando num tom de rabugem.
Minha pálpebra direita está mais flácida
que a esquerda, que aconteceu? Onde estão meus olhos? A assimetria se
intensifica a cada dia e antes fosse só por fora! Por dentro, apenas conflitos,
entendimento e sensibilidade se digladiam sem hiatos. Há uma esperança ainda,
amputada, que sem pernas se arrasta pelo caminho enquanto esfola os braços, mas
está lá, viva... tão linda a esperança, mesmo assim, meio morta, há um quê de
coragem em seu arrastar.
A Ada está ficando velha também, resmungona, e está, assim como eu, ranzinza e doente, cansada e impaciente. O gato está
perfeito.
São gotas de lucidez, o gosto é horrível.
Apesar de triste,realista... um texto maduro,um derramar de sentimentos dolorosos... não pare de escrever..
ResponderExcluirAmo você mãe.
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