segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Bom dia


É muito estranho. Todo mundo da casa acordado e barulhando pela casa, menos nós. Você está dormindo, e eu escrevendo. Está na hora do almoço e nós estamos brincando de estarmos ainda na alta madrugada. Eu faço silêncio, penso e fumo; você também faz silêncio, sonha e descansa.
                Tudo é muito estranho. Vivemos pelo futuro. Às vezes é tão tamanho o empenho que esquecemos o hoje. O futuro é o que nos aproxima do fim e é para lá que caminhamos todos os dias, num misto de medo e ansiedade, aos passos rápidos do ponteiro que marca os segundos. Incansáveis, coração e ponteiro de mãos dadas a caminho do fim, do futuro. Inevitável, amado e odiado fim.
                Não é no futuro que está o que quero. O que quero, existe no presente. O futuro é inevitável, obrigação. É para lá que sempre fomos, é para lá que sempre iremos. Deixemos que o futuro regue suas plantas, reguemos as nossas.
                Minhas flores não são as que plantarei no futuro, são as que tenho de regar hoje. A família que amo não é aquela que terá restado, é a que me acompanha hoje. O marido que amo não será nem foi aquele, é este. É uma questão que envolve a necessidade de assumir o que somos. Não somos o que seremos, somos os que somos e devemos nos amar.
                A felicidade consiste em saber amar o presente, amar o dia e quem hoje está nele. Amar a mesma cama, o mesmo cobertor. Amar a luminária, o cavalete e o desenho que nele está. O criado mudo, o guarda-roupa arrumado, os livros. A chuva que está caindo e você que acordou.

Selmy Menezes.

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