quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O gosto de um pensamento.


Desde pequena me acontece algo esquisito na hora de dormir. Em forma de imagens, pensamentos me vêm à mente, de tal maneira estranha, que parecem ocupar-me todo o crânio: como a imagem de uma bola gigante que de tão grande se torna impensável e acaba alcançando (por trás) os ossos da testa; ou a imagem de um menino que como num desenho animado vai ficando cada vez mais magro até sumir de vez num vazio escuro e infinito – que deixa oco o raciocínio. Coçando a cabeça afugento tais pensamentos, que somem numa fração de segundo, como galinhas assustadas.

Quem dera se todos os pensamentos perturbadores que tenho pudessem sumir assim tão facilmente. Uma bola imaginária que infla até me explodir a cuca é ruim, sem dúvida. Mas nada se compara ao que sinto quando penso em coisas abstratas, que pela falta de imagem me deixam mais que atulhada ou oca, deixam-me perdida – como o olhar de uma pessoa profundamente triste. Sem contornos, a inimaginável liberdade me atormenta até o sangue. Onde está você, beleza, seu lindo rosto? Onde estão suas mãos, D. Justiça? Apareçam! E eu vasculho cada canto do meu ser à procura dessas ideias, arrasto teorias como se fossem móveis, junto palavras como quem varre folhas, frases passam como pássaros, e no fim não resta quase nada – como uma sensação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Páginas