É muito estranho. Todo mundo da casa acordado e barulhando
pela casa, menos nós. Você está dormindo, e eu escrevendo. Está na hora do
almoço e nós estamos brincando de estarmos ainda na alta madrugada. Eu faço
silêncio, penso e fumo; você também faz silêncio, sonha e descansa.
Tudo é
muito estranho. Vivemos pelo futuro. Às vezes é tão tamanho o empenho que
esquecemos o hoje. O futuro é o que nos aproxima do fim e é para lá que
caminhamos todos os dias, num misto de medo e ansiedade, aos passos rápidos do
ponteiro que marca os segundos. Incansáveis, coração e ponteiro de mãos dadas a
caminho do fim, do futuro. Inevitável, amado e odiado fim.
Não é no
futuro que está o que quero. O que quero, existe no presente. O futuro é
inevitável, obrigação. É para lá que sempre fomos, é para lá que sempre iremos.
Deixemos que o futuro regue suas plantas, reguemos as nossas.
Minhas
flores não são as que plantarei no futuro, são as que tenho de regar hoje. A
família que amo não é aquela que terá restado, é a que me acompanha hoje. O
marido que amo não será nem foi aquele, é este. É uma questão que envolve a
necessidade de assumir o que somos. Não somos o que seremos, somos os que somos
e devemos nos amar.
A
felicidade consiste em saber amar o presente, amar o dia e quem hoje está nele.
Amar a mesma cama, o mesmo cobertor. Amar a luminária, o cavalete e o desenho
que nele está. O criado mudo, o guarda-roupa arrumado, os livros. A chuva que
está caindo e você que acordou.
Selmy Menezes.
Gratidão
ResponderExcluiramo-nos