Imagine que no futuro os Chorões
estarão imensos, velhos contadores de história, da nossa história. Contarão que
são filhos dos velhos Chorões do lago e nos lembrarão daquele fim de tarde.
Serão robustos, verdes, balançantes, preguiçosos e sentimentais que chorarão
folhinhas verdes até que consigam se deitar no chão. Nós dois, do terraço
veremos suas copas, e lá longe o vale. Sentados no chão e encostados um no outro,
cada um na sua função, um na piteira e o outro no tombo, conversaremos sobre os
muitos anos que se passaram. Falaremos de como o quintal mudou, comentaremos os
ipês do vizinho e as roseiras de sua mãe. Depois nos perderemos nas horas rindo
de alguma bobagem, e em algum momento, o tempo vai parar e eu vou reparar no
seu sorriso, nos dois traços que se formam em baixo dos seus olhos logo acima
das bochechas, fitarei seus olhos serrados de felicidade, seus retos e longos
cílios que tanto gosto, não me conterei e lhe roubarei um beijo.
Ontem ,enquanto
dormias, eu sentei aos pés da cama e escrevi, escrevi, escrevi, depois apaguei
tudo e dormi. Apaguei por que eu queria ter escrito sobre mim, sobre você,
sobre nós, e na realidade não estava escrevendo sobre ninguém. Apenas jogava palavras no Word, palavras que
contavam uma história qualquer e não a minha. No conforto e segurança daquele
escuro eu queria ter escrito sobre o quanto eu amava estar ali, aos pés da cama
e te vendo dormir. Queria escrever o quanto eu amava as dobras no cobertor azul
e a luminosidade vinda da janela. O silêncio da casa, a sua respiração. Mas
desisti, e não escrevi nada, deitei atrás de você, te abracei, te beijei a
nuca, rocei no seu cabelo, encostei a testa na sua cabeça na esperança de ouvir
seu sonho. O desejo foi forte, e no silêncio da minha mente eu pude ouvir a
sua. Fechei os olhos, vi onde estavas, fui pra junto, dormi.
Eu
queria entender a paz que sinto quando sento aqui nesse banquinho do seu
quintal. Só aqui relaxo o suficiente pra deixar meu corpo sentado e minha alma
voar. Voar que nem borboleta depois da chuva, feito doida entre as gotas d’agua
nas plantas. Minha alma voa de lembrança em lembrança, de sonho em sonho,
bebendo os sorrisos no imaginário. Aqui, no quintal, todo fim de tarde é
memorável, no horizonte as nuvens se desfazem se transformando em fiapos de
algodão pelo céu, que logo mais será o quadro do infinito. E nós teremos
passado mais uma tarde aqui, entre as plantinhas que contam a história da sua
vida, e agora da minha.
Os
Chorões do futuro serão plantados hoje, as roseiras já estão floridas, as
bromélias estão dando brotos, os bonsais estão pedindo cuidados, os mamões em
breve serão colhidos e as pitaias também, as primeiras acerolas apareceram...
Hoje, eu quis escrever, sobre o amor que sinto por plantarmos juntos. Plantamos
de um tudo, plantamos desde sementes a histórias, e de terra entendemos, de
sonhos também, por isso confio que todo dia será dia de colheita.
Hoje, quando formos dormir, te darei outro
abraço, outro beijo, pra que amanha, eu colha uma nova história e tenha sempre
o que escrever. Amo você.
Selmy Menezes
Desejo pra voce uma vida repleta de excelentes colheitas, e que as das lágrimas sejam sempre escassas.
ResponderExcluirDemais MY... Adoro suas histórias
ResponderExcluirSelmYzinha, gosto de ler você! Beijo
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