Meu pai gostava de definir as
coisas, dava muita importância as palavras. E eu amava aquele processo: de destrinchar
as palavras até que se desfizessem na confusão de suas origens e interpretações,
ele me parecia muito inteligente.
Hoje em dia penso que meu pai é um
homem que tem aguçada sua intuição inventiva. É um sábio, com hipóteses fecundas
baseadas num conhecimento intuitivo. Me ensinou a filosofar, sou grata. Me
ensinou a amar as palavras, os problemas do conceito, e sobretudo, a intuição.
Ele gosta de chama-la de “deus”, sua intuição. Intuição, deus, intuição,
deus... isso resultou num pequeno “conflito”, penso, que nos rendeu nossa atual
“silenciosa” relação. E hoje em dia eu filosofo com um pai um tanto imaginário,
desatualizado. Mas o importante, é que aprendi a caminhar pelo escuro e confusão
da minha mente até minha solidão mais profunda, e ali descansar.
Certo dia me perguntaram: “se não
acreditas em Deus acreditas em quê (quem)?”. Ora, pessoas, precisamos acreditar
em algo? Por que não veem a beleza sublime do desconhecido? Por que não sentem
o prazer da dúvida? Todos estamos a cair de um precipício, por que seria melhor
“crer” que seremos salvos, se tudo o que sabemos é a contínua aproximação do
nosso fim, e tudo que sentimos nos confirma a tese? Sublime, sim, a beleza do
vazio que nos consome, da ignorância consciente. O mundo não acaba, nem a vida,
por vivermos sem certezas plenas. Muito pelo contrário, um mundo novo se abre,
quiçá todos os dias.
Schiller escreveu “Por isso o
pensador abstrato tem, frequentemente, um coração frio, pois desmembra as
impressões que só como um todo comovem a alma” (SCHILLER. A educação estética do homem.1995. P.43).
Quando sinto falta de bons escritos venho aqui e nunca me decepciono.
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