É uma casinha de madeira com roseiras no canteiro da frente, e um Ipê na calçada. Dezenas de Suculentas te cumprimentam na pequena varanda e Samambaias pelas paredes até à porta de madeira. Muito vivas, verdes e felizes, mil florzinhas e bonsais, um bonsai em especial de uma Flamboaiã, todas pulverizam no ar uma atmosfera de tranquilidade.
No quintal nos fundos da casa, a sensação é de estar bem longe daqui, daqui de Marília, da faculdade, dos 20 anos. Sinto-me perto de casa, da minha. E quem me conhece sabe, eu não tenho casa. Então quando escrevo "minha casa", me refiro à imaginaria, àquela onde mora meu futuro, sabe? É onde moram meus planos, onde minhas esperanças se alimentam, onde minhas aflições finalmente encontram paz e dormem.
Sentada entre o canteiro de morango e as bromélias, entre as flores de maio e de outubro, sobre a sombra falhada da jabuticabeira, eu fico a pensar. Penso nele, penso na vida. Ele não sabe o quanto eu penso, o quanto eu reparo, o quanto eu gosto, busca nos meus olhos uma resposta, e é tão esperto que encontra. Encontra nos meus olhares e nas entrelinhas do que eu digo a intensidade do que sinto, confirma na pele a sensação, deixa de ser só impressão, fica sabendo, vai conhecendo, me descobrindo, tirando as cobertas, me vendo. Eu o olho enquanto poda o limoeiro, eu gosto, e ele sabe.
Observo as flores do pé de Maria, seus brilhantes e suas tão famosas folhas, tão cheirosa no cantinho do terreno, plantada é sempre melhor. Entre um trago e outro minha vida mudou muito; minha piteira evoluiu, a pilha de roupas sujas foi lavada, eu experimentei peixe crú e passei a comer rúcula sem dificuldade,voltei a comer de manhã, voltei a me alimentar na realidade. Há muito estava me alimentando de frustração ao molho de qualquer coisa, e pra quem não sabe, não há prato mais indigesto. Ele não faz ideia de quanto eu gosto de suas comidas, sabe não...rs, alimentou minhas forças.
O limoeiro é velho, a goiabeira também, todas as árvores estão carregadas de história, as marcas das podas desvendam as perdas ao longo de suas vidas. E mesmo com cicatrizes, cresceram lindamente de acordo com a vontade de quem as podou, o limoeiro tem sua copa bem baixinha e inclinada pra direita, caindo na direção do muro, é uma pequena cabana.
Cuidadoso, paciente e detalhista ele dá forma ao quintal. Existe o canto das orquídeas aos pés da jabuticabeira. Logo atras, o canto das bromélias, que é por sinal um cantinho especial, é onde fica o banquinho, todos deixam aqui quando sentam um pouquinh de si mesmo. Eu quando sento ali compartilho com as plantas umas muitas lembranças, eu piso na terra, cheiro o ar. Gosto dele, gosto mesmo, dele que escolheu os vasos, que montou o banquinho, que cuidou das plantas, que plantou os morangos. Eu plantaria morangos, penso que o cara é esperto, sensível também.
É um aconchegante quintal, o é porque me lembra meus pais, minha infância, meus livros...Ultimamente ao acordarmos, cedo sempre, sentamos no banquinho e fumamos um olhando o vale lá no horizonte, e ele fala de especiarias, pratos raros e curiosidades da gastronomia, enquanto eu olho carros descerem e subirem nas duas ruas que podemos enxergar, bem longe, os carros parecem de brinquedo, pequenos, sem barulho, inofensivos, aqui a sensação que tenho é que tudo no mundo me é inofensivo.
Ele não sabe o quanto eu amo esse quintal...
Serei um amigo para conversar
ResponderExcluirQue lindo filha!!! estou tao feliz porque vc esta feliz! Te amo pra sempre menininha!
ResponderExcluirMuito bem escrito, Sel! Parabéns.
ResponderExcluir